sexta-feira, 29 de maio de 2009

As barreiras da liberdade

Por Nadja Medeiros

“Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade”. (Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1947, Artigo I)


Cibele Albuquerque e Alexsandra Gomes

Todo ser humano, como encontramos no artigo I, da Declaração Universal de Direitos Humanos, nasce livre. Mas, até onde permanece livre? Somos livres quando podemos ir e vir, quando tomamos decisões e desfrutamos da cidadania.
Para quem usa cadeira de rodas, esse artigo ainda está muito longe de tornar-se real. Com as barreiras que vão, desde as arquitetônicas até a atitudinais, muitos são limitados a uma liberdade restrita. A exemplo, encontramos duas pessoas que vivenciam o que descrevemos acima.
Cibelle Albuquerque, 26 anos , estudante, residente em Casa Amarela/PE. Com sete meses de idade, ficou paraplégica devido a um susto. Hoje, usuária de cadeira de rodas, enfrenta uma rotina que exige muita determinação. Sair de casa, ir à escola, que fica a alguns metros de sua casa, é sempre necessário o apoio de alguém para se locomover e driblar os diversos obstáculos do caminho.
Em relação ao lazer, a mesma fala que nem tudo o que tem vontade pode fazer. “Tenho medo do caminho e da falta de acessibilidade”, afirma. Mesmo sabendo dos riscos, gosta muito de ir a Shows. Há cinco anos, tomou coragem para enfrentar as multidões, que muitas vezes, super protegem ou simplesmente não respeitam suas limitações. Mesmo assim, diz que gosta do calor humano e da sensação que encontra, pois, sente-se igual a todos que estão curtindo o show. Ama a praia, porém, considera um lazer inacessível. "O calçadão, a areia, e a situação em si, torna-se totalmente inviável, como dizem, querer nem sempre é poder", resume. Pergunto o que vem em sua mente quando pensa em lazer, depois de uma pausa, responde: “Pensando em lazer, a primeira palavra que mim vem a mente é dificuldade”.
A mesma realidade também é enfrentada por Alexsandra Gomes, 31, moradora do UR 5, Ibura/PE. Com seis meses de idade, por erro médico, também ficou paraplégica. Parou os estudos por não ter ninguém que a levasse a escola.
A rotina de Alexsandra é sempre em casa, gosta de fazer crochê para investir no tempo. Destaca que sempre que surge oportunidade de sair, quando alguém a convida, vai a qualquer lugar. Não deixa de ir, afinal, acaba fazendo dessa saída um lazer e uma forma de fugir de sua rotina. É preciso duas pessoas para ajudá-la a subir e descer os degraus que ficam próximo a rua onde mora. “Ainda esta semana, me deu vontade de jogar tudo para o alto e desistir, por pensar em momentos que quero sair, mas dependo sempre de alguém”, desabafa. Faz questão de citar que a praia, tanto a noite quanto de dia, é um excelente lugar para quem quer sentir a sensação de liberdade, refletir e desestressar. Apesar de não fazer parte da sua realidade, diz que surgindo alguém para acompanhá-la, não hesita em aproveitar o máximo que puder. Aproveitando, faço a mesma pergunta que fiz a Cibelle. Em relação ao que vem na mente quando pensa em lazer, ela responde com o olhar distante: “Lazer para mim é diversão, apesar da dificuldade”.
Por englobar várias situações e locais que requer nossa decisão para irmos e vimos, enfatizei o lazer para trazer a questão do ser livre.
O que constatamos é que muitos ainda não estão e nem sabem se um dia estarão inseridos no I artigo da Declaração Universal de Direitos Humanos. Nos reportamos aos demais artigos e nos perguntamos: será que estão inclusos nos outros? Bom, esta é outra questão a se responder observando ao nosso redor.

Um comentário:

  1. Muito boa esta matéria, ainda mais vinde de quem veio. Parabéns!!

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